Nossa vida é
construída sobre um tripé: fé, esperança e sabedoria. Se faltar uma dessas
dimensões, ela não poderá manter-se de pé, ou seja, de um modo equilibrado.
Falamos muito sobre a fé e o amor, mas pouco sobre a esperança. Porém, se falta
a esperança não encontramos ânimo para ter fé e não encontramos sentido em
amar.
Inicialmente,
gostaria de esclarecer um aspecto conceitual. Algumas pessoas associam esperança
a esperar. Não acho legal, porque se dá uma imagem estática à esperança. Prefiro
associá-la a expectativa. Porque, a esperança é dinâmica. Ela é motivadora. Ela
nos impulsiona a seguir em frente, mesmo em situações adversas. É um esperar em
movimento, em ação.
Vivemos diariamente
uma experiência que remete a esperança: todos os dias o sol se põe e vem a
noite. Por mais que seja intensa a escuridão, dentro de nós existe uma certeza
de que o sol irá despontar no céu e brilhar novamente. Assim também é na vida.
Quando vêm os momentos difíceis e dentro de nós há uma certeza de que esses
momentos irão passar, então temos esperança.
Surge, então, a questão:
“Como obter esperança?”. Numa perspectiva cristã, a esperança, assim como a fé
e o amor, é um dom. Um pressente dado por Deus gratuitamente. Isso significa
que ela pode ser pedida. Você precisa de esperança? Peça a Deus e Ele lhe dará.
Essa imagem da esperança como um dom vindo do alto é bastante positiva, porque indica
que ela não vem das situações externas. Isso significa que, quando mais
precisarmos dela, não irá nos faltar. Caso contrário, como poderíamos ter esperança
quando os eventos externos não nos podem a oferecer, e pior, no momento em que
mais precisamos dela. Estaríamos perdidos.
A esperança é um
modo de ver a vida. Significa contemplar os acontecimentos com otimismo. Aqui
gostaria de fazer uma distinção entre dificuldade e problema. A vida trás
dificuldades e desafios, porém os problemas somos nós que fazemos. Somos nós
que transformamos nossas dificuldades em problemas. Vou clarificar esse
entendimento com uma ilustração. Certa vez, uma comunidade organizou uma festa,
que aconteceria no salão após a missa solene. Quando terminou a missa, no
momento em que as pessoas estavam se dirigindo para o salão, houve um apagão na
cidade. Acabou a energia elétrica. Na hora em que as luzes se apagaram, algumas
pessoas que estavam próximas a mim exclamavam: “A luz apagou, acabou a festa. Todo
o nosso esforço foi em vão”. Aquelas palavras me incomodaram muito. Para mim,
não há coisa mais inútil do que dizer que não há luz quando ela se apaga. Todos
estão vendo que a luz apagou. Precisamos imediatamente procurar uma solução, em
vez de ficarmos inertes na escuridão. Então, pedi ao sacristão para ir à
sacristia e pegar algumas velas. Para acalmar as pessoas, comecei a rezar e
elas me acompanharam. Quando o sacristão chegou, acendemos as velas. O ambiente
ficou lindo: um jantar à luz de velas. Depois de todos já terem se servido, a equipe
de música, que cantou na missa, começou a entoar belas canções ao som do
violão, que não precisa de energia elétrica para emitir som. As pessoas que
estavam na mesa começaram a cantar juntamente com a equipe de música. Depois as
pessoas das outras mesas também entraram no embalo. E a festa encerrou com os
participantes de pé, ao redor da equipe de música, cantando alegres. Foi a
festa mais bela e alegre que já vi. Nada disso teria acontecido se a luz não
tivesse apagado. Às vezes, a dificuldade ou a crise pode ser uma força propulsora
para surgir algo melhor, proporcionando um momento inovador e criativo. Tudo
vai depender de como vemos e agimos diante da dificuldade.
Outro exemplo. Quando
eu era adolescente, ganhei um calendário com imagens belíssimas de pinturas em
tela. Para minha surpresa, quando olhei no verso, estava a imagem dos artistas
daquelas belas obras em atividade. Eram pessoas que não tinham os braços.
Pintavam com o pincel nos lábios ou entre os dedos dos pés. Aqueles que já
exerciam esta atividade artística, quando perderam os seus braços, poderiam
pensar que sua vida já estava destruída, que tudo poderia ter acabado por ali e
que nunca mais iriam pintar. Mas eles não fizeram da dificuldade um problema. Outros,
antes de perderem seus membros, talvez nem imaginassem o artista que iria
descobrir dentro de si. Parece um paradoxo, pois quando tinham seus braços, não
pintavam. Depois de perdê-los tornaram-se pintores. Percebem o que quero dizer.
No contexto mais desfavorável, algo bom e extraordinário aconteceu. Isso também
é Páscoa. As páscoas da vida. Quando Jesus morreu, dentro de seus seguidores,
um sentimento de derrota os invadiu. Foi nesse contexto de sentimento de derrota
e de desolação, que algo extraordinário aconteceu: Cristo ressuscitou e o
Espírito Santo foi derramado sobre a Igreja em Pentecostes, dando-lhe uma força
propulsora incomparável.
Certo dia, os
discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus
pais, para que nascesse cego?”. Jesus respondeu: “Nem este pecou nem
seus pais, mas é necessário que nele se manifeste as obras de Deus.” (Jo
9,2-3). É isso mesmo, dificuldades existem para serem resolvidas. Não adianta
se revoltar com os desafios e dificuldades que a vida nos impõe. Passamos por eles,
porque estamos vivos. Não se revolte, agradeça e aja. Você está vivo! No dia em
que nascemos, nosso barco saiu do porto e entrou no mar. E o mar, às vezes, não
está fácil. O mar é a vida. O Papa Francisco, na benção Urbi et Orbi, fez
referência à passagem de escritura que fala da tempestade acalmada. E quando a
barca em que estavam os apóstolos e Jesus começou a ser violentamente agitada
pelas altas ondas e pelo forte vento, bateu um desespero nos apóstolos e eles
começaram a gritar: “Vamos perecer!” (Mc 4,38). Você em algum momento da
sua vida se sentiu assim? Então veja o que Jesus disse para eles: “Por que
sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40). Ou seja: Tenham
esperança! Não vamos deixar que o medo nos paralise. No amor, não há temor (I
João 4,18). Diante da tempestade, quem está conduzindo o barco só tem duas
saídas: ou atravessá-la ou ser destruído por ela. Tudo vai depender de como ele
a vê e de como age. Se atravessamos a tempestade do mar da vida com esperança, saímos
dela mais fortes e experientes. Ela não será nossa destruição, será nosso
aprendizado. Diante da dificuldade, se quisermos superá-la, três passos são importantes:
Uma mente tranquila, a decisão certa e ação concreta. Procure um lugar isolado
para tranquilizar a sua mente, ali você se aquieta e reza. Deixe o amor de Deus
o envolver. Uma vez mais calmo, faça um diagnóstico preciso da situação e
depois de uma cuidadosa análise e reflexão, pense na melhor solução a curto,
longo e médio prazo. Principalmente quando a questão é complexa, se faz
necessário resolvê-la por etapas, começando do ponto mais fácil. Vai resolvendo
aos poucos, com paciência e perseverança. Uma vez estabelecida a estratégia,
então é hora de entra em ação. As três etapas são importantes, pois não é
possível tomar decisões certas sem estar com a mente tranquila. Não é possível
ações eficazes sem reflexão. Quando se age sem refletir, ocorre muito
desprendimento de energia para pouco resultado, e, às vezes, em vez de resolver
o problema, pode-se piorá-lo ou criar um outro. E a reflexão sem ação não produz
mudança, porque o que faz as coisas acontecerem é a ação.
Ter esperança. Agir
com esperança. E na falta dela, pedir a Deus para Dele recebê-la. Esperança
para seguir em frente. Esperança para viver melhor.
Frei Junior
Capuchinho
Maceió-AL, 10
de junho de 2020.